domingo, 19 de setembro de 2010

A peste do século

A humanidade esteve diante das mais diversas pestes e doenças, mas creio que nenhuma foi tão sutil quanto a normose. Este foi o termo criado por Jean Yves Leloup para definir, não uma nova moléstia física, mas um tipo de comportamento moderno intensamente destrutivo e hostil. Normose seria a doença que faz com que o indivíduo aceite comportamentos nocivos ou aja por sobre um plano ilusório de uma maneira normal. O sujeito se acostuma tanto com determinada situação que nem pensa em questioná-la. Ela passa a fazer parte do cotidiano, mesmo trazendo prejuízos significativos.

Normose é assistir a escândalos políticos como corrupção e desvios de recursos de uma maneira normal. Embora reivindicações por mudanças sejam constantes, ficamos só no discurso. Ao invés de curar o mal pela raiz, somos tentados a simplesmente desviar do problema. Passiva, a sociedade aguarda providências das "autoridades" as quais, quem sabe, nunca chegarão.

A falta de ética dos ambiciosos e o comodismo generalizado inibe credibilidade e bom senso, restringindo a iniciativa e o trabalho criador necessário a uma sociedade próspera e equilibrada. E isto não acontece somente no meio político-social. A normose é um mal que avassala o mundo inteiro, penetrando também em nossos lares, onde tanto somos influenciados pelas chamadas "propagandas enganosas" da mídia, como tornamo-nos vítimas de maus hábitos e modismos que denigrem cultura e valores sociais.

Num mundo repleto de superficialidades, tornou-se comum assimilar referências vazias e sem sentido. Obsessão por consumo e manutenção de "status" são algumas condutas sutilmente interiorizadas, mesmo sem significado real para nosso próprio crescimento. Adquirimos padrões duvidosos apenas porque são considerados normais.

A normose também está na sexualidade. A revolução cultural, mesmo rompendo com antigos e rígidos padrões de relacionamento, acabou por incentivar situações fúteis e passageiras. Tentando resgatar liberdade e sensualidade, muita gente acabou por trocar intimidade e espontaneidade por indiferença e promiscuidade. Substituímos inconscientemente nossos próprios valores, aderindo às transformações de uma maneira inerte - normal.

Bem, sei que não é fácil exercitar autoconsciência frente a tantos estímulos. Mas, com sabedoria e vontade de crescer poderemos banir a normose, caminhando equilibradamente rumo a um futuro próspero, onde o progresso seja não só o resultado de transformações urgentes e transitórias, mas sobretudo baseado em valores sólidos e conscientes.

Publicado no "Estado de Minas"
Moacyr Castellani

8 comentários:

Sandra Petersen disse...

"Ficar só no discurso", "ir empurrando com a barriga", "deixar rolar",... coisas desse tipo...comportamentos assim, só atrapalham, fazem perdermos tempo e energia e, obviamente, não conseguimos chegar a lugar nenhum...!!!!

Sandra Petersen

Anônimo disse...

Esse termo NORMOSE pode ser substituído por BANALIDADE. Infelizmente está tomando conta da vida moderna. Na política, nas relações sociais, de classe, nas empresas, na educação, na violencia, no lar, etc, quando se aceita determonadas situações adversas como "parte da vida".
M. Mendes

Roger disse...

Pior mesmo é quando se perde o bonsenso e ganha-se a vergonha de ser honesto e etico...e isso já é normal.
Roger

James disse...

QUE HORROR!
CADA UMA NESTE SITE...POR QUE NÃO FALAM MAIS DAS AÇÕES DO SOS?

JAMES

Anônimo disse...

O artigo é ótimo,pois nos faz refletir. Por outro lado, bem lembrado, caro James, gostaria também de saber do destino do abaixo-assinado que o soscanas andou passando e do qual eu e muitas pessoas participamos?

Mauro

James Pizarro disse...

Para evitar futuras confusões, devo dizer que o comentarista de nome JAMES que me antecedeu aqui, não se trata de mim, também JAMES...sou JAMES PIZARRO, do blog www.antesqueanaturezamorra.blogspot.com e www.professorpizarro.blogspot.com

Obrigado

James Pizarro

Sandra Petersen disse...

Não se preocupe, professor Pizarro...
Pelo contexto, vimos que não se tratava de sua pessoa. Mesmo que fosse, respeitamos as opiniões dos comentaristas e suas críticas. Entendemos que, com as críticas é que podemos fazer uma autoavaliação, e com isto, evoluirmos...
Obrigada a TODOS que participam e comentam em nosso blog.

Abraços a você e a Vera.
Sandra Petersen

Raul Mendes disse...

MUITO BOM este artigo....Parabéns ao SOS por nos brindar com textos interessantes e inteligentes!!!

Raul Mendes