quinta-feira, 30 de junho de 2011

A foto já diz tudo

Publicada no Diário Catarinense, 30 de junho de 2011, contracapa.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

domingo, 26 de junho de 2011

Um hino para o SOS Canasvieiras

Ana Echevenguá

Para o Movimento SOS Canasvieiras, cuja principal bandeira é “queremos a praia limpa”, cada integrante contribui a sua maneira. Cada um dá o que pode!

E, na semana passada, recebemos um presente maravilhoso. Um reggae de autoria de Ana Negrello (cujos versos encontram-se no final deste).

Luis e Isa Martins, que são dois músicos também fantásticos, colaboraram na elaboração da obra. A gravação foi feita em seu estúdio e criaram, juntamente com Ana, os arranjos musicais.

Ana Negrello é gaúcha, apaixonada pela vida, por crianças, por animais... Formou-se em Música pela Universidade Federal de Santa Maria; participou de vários festivais nativistas no Rio Grande do Sul e, há 3 anos, vive na Ilha da Magia. Apresenta-se em vários barzinhos e restaurantes nas noites de Floripa. Já gravou um cd e seu trabalho é voltado para MPB e música latino-americana. Costuma dizer que nasceu em 26 de dezembro porque Deus achou que faltava um algo mais para fazer o Natal mais vibrante.

“Faremos as coisas com calma pra que fique um belo trabalho, porque a causa (S.O.S Canas) merece!”

E, inspirados e munidos de calma, produziram uma obra emocionante, e de fácil compreensão, que pretendemos ver reproduzida em vários locais e momentos.

Camila Petersen – que criou a logomarca do SOS -, encarregou-se do material gráfico para a capa do cd.

Canasvieiras agradece os versos e música que inspiraram Ana, Isa e Luis.

Ouça e internalize o convite: ajude na preservação dessa praia dotada de tantas belezas!

Não deixe a praia morrer.
Ajude na preservação.
Vamos lutar pra valer.
S.O.S Canasvieiras, vamos todos dar as mãos.

S.O.S Canasvieiras é sol,
S.O.S Canasvieiras é mar,
S.O.S Canasvieiras é preocupação,
é ajudar a preservar.

A natureza pede ajuda.
Tanto esgoto, tanta poluição
O lixo vai acumulando.
prejudicando a população.

S.O.S Canasvieiras te convida:
ajude na preservação!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O caso do esgoto de Blumenau

Ana Echevenguá

Esgoto é um problema nacional!! E parece que ninguém está preocupado em encontrar a solução; embora todos saibam que o dinheiro destinado ao tratamento de esgoto reflete - direta e positivamente – nas políticas públicas de saúde. Cada dólar investido nisso, gera uma economia de 5 dólares na área da saúde.

A universalização do acesso aos sistemas de tratamento de água e esgoto ainda é uma falácia no Brasil. Inexiste qualquer planejamento para o setor. Recentemente, o tema ingressou nas promessas de campanhas político-partidárias. A obrigação imposta pela Lei do Saneamento (11.445/2007) para que os municípios criassem seus planos de saneamento até 2010 foi prorrogada. Agora, a apresentação dos planos (e não a efetiva prestação de serviços) pode acontecer até o final de 2013.

A situação de Santa Catarina é vergonhosa. Só perde pro Piauí. Estamos em meados de 2011 e somente 12% da população urbana possuem saneamento adequado.

Por isso, cresce o número de cidades que romperam seus contratos com a CASAN – a empresa estatal que – por força politiqueira - detém os serviços de tratamento de água e de esgoto em SC. Mas sua atuação é deplorável:

- age de forma predatória e não é punida;
- relegou o saneamento básico;
- e não cuida dos mananciais de água.

O Instituto Eco&Ação soube que Blumenau rompeu seu contrato com a CASAN e foi até lá inteirar-se do assunto.

O que disse a Prefeitura

A cidade da famosa ‘Oktoberfest’, até o ano passado, contava com apenas 2% de captação de esgoto. Com verba do FUNASA, chegou a 5%.

Em 2008, mudaram as regras para que a autarquia municipal – SAMAE - ficasse somente com a distribuição da água. Iniciativa boa para o bolso do usuário: os valores ficaram inferiores aos da tarifa CASAN.

Quanto ao problema do esgoto, contrataram uma consultoria de São Paulo para apurar os custos do tratamento desse. E comprovou o que já sabiam: o investimento era inviável para os cofres da Prefeitura.

O que fazer?

Promoveram um processo licitatório pra concessão de serviço de esgoto. Surgiram várias empresas interessadas; até uma de Portugal. Segundo Cassio de Quadros, Chefe de Gabinete do Prefeito, no Brasil há, atualmente, 10 empresas querendo este filão de mercado.

O vencedor foi o Consórcio Saneblu (formado pelas empresas Foz do Brasil S/A, Odebrecht Engenharia e Engeform). As obras iniciaram em julho de 2010, com previsão de 100% de esgoto tratado em 2017. Mas, no final de 2012, poderá chegar a 65% de tratamento.

E a comunidade?

Ainda não há 100% de satisfação. Brigas judiciais, manifestações públicas, reclamações de usuários... alguns acham que é impossível ‘rasgar’ a cidade para passar a tubulação.

A primeira batalha judicial para a conclusão das obras do esgoto foi vencida. O Tribunal de Justiça de SC decidiu que a lei municipal que tratou da privatização desse serviço é boa.

Não obstante, a Foz do Brasil ainda é ré em 03 ações judiciais que questionam o assunto.

Em audiência pública, realizada na Câmara Municipal, alguns vereadores, que votaram a favor da “privatização”, admitiram seu erro e pretendem reverter o processo.

O PROCON de Blumenau alega que as reclamações contra a Foz do Brasil aumentaram muito. Em 2010, foram 66; de janeiro a março de 2011, 40. A maior parte refere-se a cobranças exageradas de tarifa de água. Contas que eram de R$50,00 passaram para R$1.000,00, por exemplo.

Parece que, hoje, a empresa envolveu-se também no sistema de tratamento da água no município, efetuando troca de hidrômetros, corte d’água e emissão de conta. Extraí do website*: “A Foz do Brasil realiza também o atendimento dos serviços de água e esgoto em Blumenau (...) Este serviço é feito em conjunto com o SAMAE, que alocou funcionários (...) para este fim”.

E que a Agência Reguladora (criada para fiscalizar os trabalhos da Foz) é uma instituição fantasma.

Ouvimos também a Foz do Brasil

Segundo o Diretor de Operações da Foz do Brasil – Francisco Jucá Soares – “Blumenau sai na frente dessa nova fase da Lei 11.445/2007. E será um cartão de visita de Santa Catarina. Terá redução significativa nas doenças de veiculação hídrica. Quem quiser, poderá pescar futuramente. Uma coisa é certa: os ribeirões de Blumenau serão salvos. É um processo de conscientização que já mostrou seus primeiros aspectos positivos”.

Consta no website* da empresa: “A Foz do Brasil é a empresa responsável pelos serviços de esgotamento sanitário do município de Blumenau até 2045. Nos três primeiros anos de concessão o município irá saltar de 6% para 60% no volume de esgoto coletado tratado”.

Os investimentos previstos são de 322 milhões de reais. 250 milhões serão aplicados nos primeiros 5 anos. O projeto contempla 4 estações de tratamento.

Quanto ao cumprimento dos prazos assumidos, ele se mostrou tranqüilo, devido à velocidade de decisão e a capacidade de fazer da Foz do Brasil: “O que a gente assume, a gente vai cumprir e, se possível, antecipar. Nosso planejamento envolve o planejamento do município. No nosso DNA, o objetivo é lucro. Mas como se obtém o resultado lucro? Através de uma boa prestação de serviço. A população é nossa verdadeira cliente, clientes de sempre... temos 35 anos de concessão”.

A participação do processo licitatório de Blumenau somente para tratamento de esgoto, “passou fundamentalmente por uma leitura de mercado. Blumenau é a terceira cidade do estado, é formadora de opinião, é balão de ensaio... queríamos vencer a licitação mesmo que não trouxesse lucro nos primeiros momentos...”.

Jucá elogiou a iniciativa do Ministério Público Estadual em colocar em sua pauta o saneamento básico. E entende que a CASAN tem que ser regulada: “Ela não está acima da lei. Um dos aspectos a serem analisados é a modicidade... e a qualidade do serviço prestado. Mas, os antagonismos políticos atrapalham a solução. Ou seja, o bem político está acima do bem comum”.

Citou a concessão na cidade de Limeira-SP – onde a Foz atua - com um case positivo: “as pessoas constroem suas casas sem caixa d’água com a certeza de que a água não vai faltar”.

Com a palavra, o MPE

Conversamos também com o doutor Luciano Naschenweng, que assumiu, em agosto de 2010, a Promotoria Regional Ambiental da Bacia Hidrogrâfica do Rio Itajaí. O Ministério Público Estadual tem um programa institucional do saneamento básico no qual a “CASAN não ajudou em nada, não acreditou no nosso trabalho”. Por isso, ele arregaçou as mangas e concentrou suas ações no saneamento básico da região. Avocou o inquérito civil do saneamento para si e conversou com os 21 prefeitos da Bacia. Foi um trabalho de formiguinha no qual 20 assinaram TACs. Com exceção do de Blumenau. Por quê?

- o Município é réu em uma ação na Justiça Federal, que trata deste assunto;
- há um processo que pede a anulação do contrato assinado pelo SAMAE com a Foz do Brasil devido a supostas irregularidades apuradas pelo promotor de justiça Gustavo Diaz.

Na época, a principal preocupação de doutor Naschenweng era evitar que a Foz do Brasil começasse a cobrança do tratamento de esgoto antes de ser efetivada a prestação desse serviço.

Atualmente, ele está atuando em Florianópolis, na equipe da Procuradoria-Geral de Justiça.

Conclusão

Blumenau está tentando fazer a coisa certa. Afinal, o Município é responsável pela prestação dos serviços de água e esgoto. E pelos danos ambientais oriundos da falta destes. A responsabilidade é objetiva e pode até implicar cadeia pro prefeito.

Coletar e tratar esgoto são serviços contratados, como outros quaisquer. Regiamente pagos pelo munícipe. Se aquele que assume este encargo não o cumpre, ta na hora de rescindir o contrato. E exigir que sejam contratadas empresas capacitadas para executar os serviços pelos quais pagamos. O tratamento de esgoto é um destes.

Embora Santa Catarina careça de uma proposta política de saneamento básico, não podemos continuar apostando na máxima: “ruim com a CASAN, pior sem ela”.

* - http://www.fozdobrasil.com.br/web/blumenau/o-que-fazemos

Ana Echevenguá, advogada ambientalista, vice-presidente do Instituto Eco&Ação e da Academia Livre das Águas, e-mail: ana@ecoeacao.com.br, website: http://www.ecoeacao.com.br.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Cidades alemãs transformam esgoto em eletricidade

Matéria de ontem (dia 13 de junho) do Jornal Nacional. A Europa está dando de 10 a zero em consciência ambiental. Vale a pena conferir: http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/cidades-alemas-transformam-esgoto-em-eletricidade/1535311/

sábado, 11 de junho de 2011

Patrulha Ecológica em São José do Cedro-SC

Ana Echevenguá*

Não existe ensinamento melhor que a prática.” – professora Maria Irene Escher.

07 de julho de 2011. A noite estava chuvosa e gélida em São José do Cedro, extremo oeste de Santa Catarina. Mas isso não impediu que o auditório da Câmara Municipal de Vereadores quase lotasse para o I Fórum Municipal de Sustentabilidade, idealizado pela UNOESC - Universidade do Oeste de Santa Catarina, (Campus Aproximado de São José do Cedro). Professores, alunos, prefeito, padre, agricultores, empresários... todos querendo falar sobre meio ambiente e boas práticas sustentáveis.

As escolas Osni Medeiros Régis e a de Educação Básica Cedrense apresentaram os projetos ambientais que desenvolvem há tempos. E outros que pretendem implantar. Inúmeras ações – eficientes e práticas - reconhecidas pela comunidade. Como atuam com parcos recursos financeiros, buscam apoio técnico e financeiro para dar continuidade a esse trabalho.

Um grupo de alunos apresentou musicalmente seu interesse em preservar o meio ambiente. Criaram letra, música e coreografia. As demais crianças ficaram sentadinhas, atentas e empolgadas; demonstrando que as escolas que freqüentam criam a consciência ecológica tão necessária nos dias atuais. Estão educando para o exercício da cidadania.

A questão hídrica do município também entrou em pauta. O rio que corta a cidade recebe o esgoto in natura. A implantação do tratamento deste custa 16 milhões. E o Município, até o momento, nada fez a respeito. Possui contrato com a CASAN apenas para tratar da água.

Coitado do rio! Recebe também outros tipos de resíduos: até fogão, geladeira, sofá... “parece um shopping Center”, segundo o jornalista Luciano Matielo. Como em alguns pontos suas margens foram emparedadas, será difícil o processo de recuperação de suas margens.

As professoras presentes disseram que as escolas têm sementes e mão-de-obra para efetuar plantio de mata ciliar em alguns pontos do rio. Caberia ao Poder Público cuidar do pós-plantio. Para o engenheiro agrônomo Jonas Ramón, da UNOESC, “o importante não é plantar mudas e, sim, cercar. E é preciso recurso financeiro para implantar cercas”.

O representante do Ministério Público Estadual – Eder Viana – manifestou seu interesse em estimular demandas em relação à preservação ambiental. Disse ainda que, além do FRBL – Fundo para Reconstituição dos Bens Lesados -, há, na comarca, recursos oriundos das transações penais. Que envolvem delitos de menor potencial ofensivo. E podem ser destinados à área ambiental.

A representante da Academia das Águas falou sobre a importância da defesa da água, da participação da comunidade no Comitê de Bacias do Rio das Antas, e do PSA - Programa Estadual de Pagamento por Serviços Ambientais -, que brevemente será implantado em Santa Catarina.

Enfim, presenciei uma noite inesquecível. Um evento socioambiental sério, produtivo, que envolveu adultos e crianças. com certeza, sensibilizou todos os presentes, que estavam lá porque pretendem guardar nossos recursos naturais para as futuras gerações.

* - presidente da ong Academia Livre das Águas.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Será?

Diário Catarinense, 10 de junho de 2011, página 12.

Acorde, Floripa!, por Ernesto São Thiago*

Um terminal de cruzeiros para Canasvieiras foi noticiado por ocasião da palestra do governador Raimundo Colombo à Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif). Quem deu a boa nova foi Cesar Souza Junior, titular da Secretaria Estadual do Turismo. Segundo ele, o governo do Estado irá buscar recursos junto ao Ministério do Turismo para o projeto. Terminamos um estudo que indicou Canasvieiras como o melhor lugar do litoral catarinense para a instalação de um terminal de cruzeiros. Já estamos trabalhando para conseguir o projeto executivo e as licenças ambientais, detalhou a um auditório absolutamente lotado. Vamos recolocar Florianópolis novamente no mapa dos cruzeiros internacionais, garantiu.

Segundo estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgado no Seatrade South America Cruise Convention, encontro mundial do segmento, o turismo marítimo movimentou, em 2010-2011, entre gastos de armadoras e de passageiros, R$ 1,3 bilhão no país. O Rio registrou R$ 102,9 milhões, seguido por Santos, com R$ 86,6 milhões, e Búzios, com R$ 57 milhões. Dos R$ 522,5 milhões gastos pelos turistas e tripulantes, R$ 172,6 milhões o foram com o comércio varejista, e R$ 155,1 milhões com alimentos e bebidas. Passeios giraram R$ 67,6 milhões, e transporte, durante a viagem, R$ 30,5 milhões. Comissões a agentes de viagens representaram mais R$ 122,9 milhões. Gastos com hotéis e resorts, antes ou após o cruzeiro, chegaram a R$ 16,4 milhões.

A última temporada teve 20 navios, que transportaram, aproximadamente, 800 mil passageiros, 100 mil estrangeiros. Com melhores portos, regulação e marketing, os números vão disparar. Milhões de fiéis turistas de cruzeiros americanos e europeus começarão a desembarcar no Brasil.

Se a hipersazonalidade é um grande desafio, a temporada de cruzeiros brasileira vai de outubro a maio: quando estamos na primavera, navios já estão movimentando milhares de turistas em outros destinos do litoral brasileiro, inclusive o de SC, e continuam a fazê-lo até depois da Páscoa, quando os turistas há muito já se foram daqui. Florianópolis precisa desse terminal de cruzeiros. É uma questão de competitividade.

*DIRETOR DE TURISMO DA ACIF

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Convite

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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Mensagem para o Dia Mundial do Meio Ambiente

Fonte: Jornal dos Amigos

Antigamente, quando se vivia na roça, lixo não era problema. Não havia plástico, latas, papel, detergentes, produtos químicos. Os restos de comida eram reciclados pelos animais, o mais notável dentre eles sendo o porco, que comia tudo que sobrava. A grande lei que diz que "nada se perde e nada se cria, tudo se transforma" bem que pode ter sido intuída por Lavoisier na contemplação de um porco que fazia o seu trabalho. Fezes e urina não eram problema. Não poluíam. As bananeiras, plantadas em moitas perto das casas, eram os lugares onde os humanos deixavam os seus detritos que, na verdade, não eram; eram adubos. Lombos de porcos assados e bananas, num momento anterior dos processos transformadores da natureza, haviam sido outras coisas. O lixo estava integrado na circulação da vida.

Aí vieram as cidades.

Nas cidades as coisas se complicaram. Não há moitas de bananeiras suficiente para todos. Daí a necessidade dos urinóis e criados-mudo onde as fezes a e urina, outrora depositadas nas bananeiras, eram colhidas e guardadas. Como não havia serviço de coleta de lixo e as porcarias não podiam ficar estocadas de casa, o jeito era jogá-las na rua.

Descrições da Paris daqueles tempos são espetáculos dignos de telas infernais de Bosch. Era muito arriscado andar pelas ruas. Nunca se sabia quando o morador do segundo andar ia despejar os penicos pela a janela. Sem ter condições para ser transformado, o lixo se amontoava, tornando-se as delícias de bilhões de ratos e trilhões de baratas. A protestante Genebra, sob o governo férreo de Calvino, foi a primeira cidade a imaginar e a estabelecer um sistema de coleta de lixo. O hábito ficou. Em Genebra, ai daquele que se atrever a jogar na rua uma bolinha de papel.

Aí veio a civilização tecnológica.

As primitivas e malcheirosas "casinhas" se transformaram em banheiros limpos e perfumados. Neles basta que se aperte um botão a e coisa feia desaparece magicamente, não se sabendo para onde vai. Já imaginaram as grandes cidades, São Paulo, Nova York, Hong- Kong, as milhares de toneladas de fezes e urina que diariamente são produzidas e desaparecidas? Desaparecidas nada. Na natureza nada se perde...

Elas vão para um outro lugar. E as toneladas de papel, entulhos, plásticos, latas, garrafas, pneus, automóveis, montanhas de coisas que compramos e jogamos fora, detergentes, produtos químicos, resíduos industriais, fuligem, gases- tudo isso - todo dia- sem parar- sem que a natureza tenha condições de transformar- uma garrafa de plástico, em termos humanos, é praticamente eterna, indestrutível. Onde se colocar tudo isso ? As águas são as que mais sofrem. Joga-se um pneu no mar e vapt-vupt, a mágica está feita, não existe pneu. Ele some. Também os rios.
Um menininho, olhando para um riachinho imundo que passa perto de Itaici, perguntou à sua mãe: "Mamãe, por que é que os rios têm de ser sujos?".

Os rios não têm de ser sujos. Nós os sujamos. E eles ficarão cada vez mais sujos. Porque deixaram de ser rios e passaram a ser esgoto. Contemplar o rio Tietê e o Pinheiros é uma experiência de fim de mundo. O problema do lixo só pode ser resolvido com medidas políticas e técnicas. O custo econômico é imenso e as dificuldades técnicas incalculáveis. Nesse campo falta-me competência e poder. Nada posso fazer.

O fato do lixo, entretanto, tem uma dimensão ética: a forma como eu, individualmente, lido com o lixo, revela o cuidado (ou falta de cuidado) que tenho para com o mundo que me cerca. O lixo espalha pelas praças, ruas, jardins, a maneira natural de as pessoas irem jogando papel, latas e garrafas por onde passam revela que elas não têm consciência do mundo em que vivem. Elas não sabem que a natureza é um extensão do seu corpo e que a vida acontece num processo constante de trocas entre o corpo e a natureza - o ar entra em mim, sai de mim, a comida entra em mim, sai de mim. Se a natureza se tornar veneno, o corpo morrerá. O que me dói mesmo não é ver as coisas que as pessoas jogam no espaço por onde passam. É ter consciência de que elas nem ligam, não pensam, não se importam.

Para mim, o ritual supremo do lixo acontecia na Unicamp, no dia "Dia da Universidade Aberta". Faz tempo. Nem sei se esse dia ainda existe. Era um dia em que a universidade se abria para jovens de todo o Brasil; podiam andar pelas ruas e gramados, visitar os institutos e faculdades. O "day after" era o dia do lixo. Alem do puro horror físico do espetáculo, o que se via era o retrato da juventude que por ali passara. Ali estava o retrato de como eles se sentiam frente ao espaço por onde andavam.

Depois fui visitar a cidade de Caruaru, Pernambuco, famosa pela sua feira e pelo delicado artesanato que lá se produz. Ali encontrei gente muito querida e sensível. Mas é preciso confessar que foi o lixo que deixou em mim a impressão mais forte. Voltei triste. Sacos de lixo espalhados por todos os lugares . Pensei logo: se eu fosse prefeito daquela cidade o meu primeiro ato seria convocar a população para que juntos, todos fizéssemos um mutirão de cata de lixo. Catado o lixo, o meu segundo ato seria convocar a população para plantar árvores naquele cenário desolado. Árvores são sinais de vida e de alegria. Penso, inclusive, que esse seria um programa digno de qualquer prefeito.

Mas o choque maior que tive foi na cidade de Aparecida do Norte, lugar sagrado, santificado pela energia mansa da Mãe de Deus, que cobre o mundo com seu manto azul. Imaginei que os romeiros andariam por aqueles espaços com o mesmo respeito com que se anda dentro de um templo, pois o mundo todo, coberto pelo manto da Virgem, é sagrado, é templo. Mas o que eu vi me horrorizou. A sujeira era pior que a sujeira do "day-after" na Unicamp, pior que a sujeira de Caruaru. E aí fiquei sem esperanças, ao ver que as pessoas podem ser religiosas e não ter amor e respeito por esse mundo de Deus. Talvez porque elas, de tanto repetir uma certa reza, tenham aprendido que esse mundo é um "vale de lágrimas" onde os filhos de Eva vivem em desterro. Se o mundo é um lugar de castigo, então sujar o mundo é virtude...

Pensei então, que se eu fosse Papa, tomaria logo algumas providências. Primeiro, criaria uma ordem religiosa cuja missão seria catar o lixo do mundo. Ao lado das ordens que se dedicam a ensinar, das ordens que se dedicam a cuidar dos doentes, das ordens que se dedicam a pregar, das ordens que dedicam a orar, haveria uma ordem que se dedicaria a catar lixo. Por onde que ela passasse, seria aquela felicidade: o lixo desapareceria.

Segundo, promulgaria uma encíclica em que o ato de sujar o mundo é elevado à condição de pecado capital. E os padres seriam instruídos no sentido de, ao ouvirem as confissões dos pecados dos seus fiéis, fazerem uma pergunta final obrigatória: "Meu filho, e quanto ao lixo? Você tem jogado coisas de forma irresponsável nesse mundo que Deus criou para ser um jardim? Que é que você tem feito para retirar o lixo do mundo ?".

E, por último, substituiria as penitências que geralmente são prescritas aos pecadores no confessionário. Ao invés de tantas rezas os pecadores teriam de catar sacos de lixo para obter o perdão para seus pecados. Seria comovente ver, nas manhãs de domingo, senhores, senhoras e jovens irmanados na tarefa espiritual e humilde de catar o lixo espalhado pelas cidades e pelos campos. Acho mesmo que, os sujadores, ao verem isso, se cobririam de vergonha e se arrependeriam dos seus pecados...

Por Rubem Alves, 68, professor emérito da UNICAMP, medalha Carlos Gomes de contribuição à cultura, psicanalista, escritor, articulista da Folha de S. Paulo e do Correio Popular de Campinas, autor de mais de 30 livros para adultos e mais de 30 para crianças.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Sempre haverá sol

por Ana Elisa Piltz Negrello*

A frase que marcou a minha vida quando iniciei minha “jornada do saber” foi dita pela minha grande mestra e mãe: “- Desse portão para dentro, você tem que obedecer e respeitar Ela!”
Minha mãe sabiamente se referia ao portão da Escola. “Ela” era a professora que me alfabetizou e que, 15 anos mais tarde, tive o imenso prazer de convidar para assistir minha formatura na Faculdade. E ela foi.
Hoje, sou eu quem está à frente de várias turmas escolares, desempenhando um papel tão lindo e importante na nossa sociedade: o de educadora que, “a priori”, significa transmitir e ensinar conhecimentos aos pequenos infantes; e, de certa forma, prepará-los para a vida. Essa luta não é fácil e se faz necessário um bom acompanhamento familiar e escolar. E é ai que nos deparamos com algumas barreiras.
Ao contrário de minha mãe que outorgou autoridade suficiente para minha querida professora, os pais de hoje em dia, na sua maioria - levando em conta a globalização, a informatização e porque não dizer a modernidade -, delegam ao professor a total e plena responsabilidade pela educação de seus filhos. Muitas vezes deixando-os pela manhã numa escola e apanhando-os à noite. Tornam assim a Escola uma espécie de “1ª casa”; e esperam dela o pleno e total sucesso na formação dos mesmos. Mas, quando realmente o professor chama a atenção da criança, os pais vêm até a escola para saber o que há de errado com ela.
Devemos ter bem claro o nosso papel enquanto educadores e atrair os pais para junto da escola com propostas pedagógicas de ajuda mútua e colaboração.
Tenho a absoluta certeza de que esse triângulo ESCOLA-PAIS-ALUNOS é infalível para a formação de bons cidadãos e cabe a nós, educadores, sermos o elo entre as partes envolvidas nesse processo.
E fazendo analogia à música do Grupo Titãs “ENQUANTO HOUVER SOL AINDA HAVERÁ...”, acredito que - enquanto houverem educadores preocupados e comprometidos com a educação - AINDA HAVERÁ FORMAÇÃO DE BONS CIDADÃOS.

*Ana Elisa Piltz Negrello, música e professora de Artes do Colégio Fênix, Florianópolis, SC, e-mail: inegrello @ hotmail. com.