domingo, 3 de abril de 2011

Pequeno, bonito e mais barato

Publicado em: 28/01/2011

Jornal O Estado de São Paulo

Houve tempo em que se popularizou a expressão “small is beautiful” (o pequeno é bonito), que pretendia demonstrar, principalmente na área ambiental...

Não é muito diferente na área do saneamento, onde mais de 50% da população (mais de 107 milhões de pessoas) continuam sem rede coletora de esgotos; menos de 30% dos esgotos coletados são tratados; e quase 40 milhões de pessoas não recebem água tratada em suas casas (Gesner de Oliveira, presidente da Sabesp, 2011) – com graves conseqüências também na área de saúde, onde as doenças veiculadas pela água são a principal causa de internações e consultas na rede pública, e na dos recursos hídricos, onde o despejo de esgotos sem tratamento é a principal causa de poluição. Mas nem se acena com qualquer possibilidade próxima de solução, pois se argumenta que, para universalizar o atendimento na área, serão necessários megainvestimentos de R$13,5 bilhões por ano durante 15 anos (Folha de S. Paulo, 7/1). Ou R$255 bilhões, segundo a Sabesp.E ainda é preciso lembrar que os investimentos pelo PAC nesse setor - de 4 a 6 bilhões de reais por ano - não têm chegado nem à metade do planejado.
Talvez seja a hora de relembrar, então, que, dada a urgência de soluções para a sociedade, o pequeno pode ser bonito – e muito mais rápido. Começando pelo saneamento. Brasília é hoje a capital com maior índice de coleta de esgotos, acima de 90%, graças ao sistema condominial, criado pelo pernambucano José Carlos Mello e introduzido na cidade no início da década de 90. Que, eliminando, nas quadras internas em áreas de expansão, a maior parte das caríssimas redes coletoras de grandes manilhas de concreto, conseguiu ali, com enorme economia, chegar bem perto da universalização. No Brasil, já existem cerca de 5 milhões de pessoas beneficiárias do sistema, além de um milhão no Peru. Mas continua muito forte a resistência das empresas estatais a adotar esse caminho e restringir megaobras.
Não é a única solução de menor porte. A própria Agência Fapesp, junto com o Instituto de Geociências da USP, desenvolveu modelo eficiente de fossas sépticas para comunidades de menores recursos, capazes de degradar a matéria orgânica nos esgotos e dar tratamento adequado ao nitrogênio, que costuma permanecer durante décadas nas águas próximas das fossas convencionais (e 75% dos municípios paulistas já usam águas subterrâneas) . Com a vantagem de que as fossas podem ser implantadas por qualquer pedreiro, a custo baixíssimo (Agência Fapesp, 27/8/10). No Paraná, onde 57,9% das cidades não dispõem de redes de coleta de esgotos (Ambiente Brasil, 27/12/10), também se começa a implantar “estações de tratamento de esgotos por zona de raízes”, um sistema em que plantas filtram o efluente antes de lançá-lo na natureza. Uma estação para tratar efluentes de uma casa pode ser feita em dois dias e custar R$500. Ou pouco mais, em pequenos conjuntos. Os coliformes fecais são reduzidos em 99%. Já há projetos maiores em andamento, como, em São José dos Pinhais, uma estação para tratar os efluentes de 700 pessoas. A bióloga Tâmara Van Kaick, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, atesta a eficiência do sistema.
Ainda na área do saneamento, é inacreditável que não se implantem sistemas para financiar a recuperação de redes de água, quando a perda média em nossas cidades é de 40% da água que sai das estações de tratamento e custa de 5 a 7 vezes menos recuperar um litro de água que obter um litro “novo” com novas barragens, novas adutoras e novas estações de tratamento. Mas as prefeituras não conseguem recursos para entrar por esse caminho econômico.
Da mesma forma, dezenas de bilhões de reais vão para projetos como o da transposição das águas do rio São Francisco e, em boa parte, para cidades com esses níveis de perda – enquanto é enorme a luta para conseguir mais recursos para a implantação de cisternas de placas nas comunidades isoladas do Nordeste, capazes de abastecer de água uma família durante toda a estiagem. Cada uma delas custa cerca de R$1,3 mil, mas só foram implantadas 323 mil, quando se precisa de mais um milhão.
“Small is beautiful” - é preciso, mais do que nunca, gritar pelas ruas.

2 comentários:

Sandra Petersen disse...

Se é mais barato, não dá lucro...se não dá lucro, não interessa ao poder público.

Sandra Petersen

Anônimo disse...

casan tá conseguin do acabar com as praias aqui na ilha, porque no continente já não temos praias limpas.
um absurdo e ninguem fas nada pra impedir.

Luis Henrique