Este ano de 2011, definitivamente, não é um bom ano para aqueles que vivem na dimensão ilusória do chamado mundo fashion. Pela ordem, primeiro veio a constatação de que entre as “celebridades” criadas pela mídia amiga (amiga naquele sentido de “eu te cito e tu me convidas para as bocas livres”) havia muito penetra procurado pela polícia (falcatruas, tráfico de drogas, estelionato, essas coisas), “sujando” biografias de famosos, notadamente no litoral catarinense. Depois, um baque sem precedentes na vida mundana: a Daslu foi desmontada de seu famoso prédio, de arquitetura neoclássica, na Marginal Pinheiros, em São Paulo. A Daslu sempre esteve no vocabulário das dondocas ricaças como um sonho de consumo para quem tem muito, muito dinheiro. Daslu é uma forma acoplada de “Das Luluzinhas”. Ou seja, quase um clube prive para mulheres endinheiradas e com cartões de crédito sem limite, bandeira “Dosma”. Dos maridos, claro. Mas a proprietária da Daslu, Eliana Tranchessi, teve de enfrentar uma força tarefa da Polícia Federal e da Receita Federal e a acusação de fraude em importação, formação de quadrilha e falsidade ideológica. Dona Eliana foi presa e condenada a 94,5 anos de prisão, sentença que se encontra em fase de recurso pela defesa. A Receita calculou a fraude fiscal em R$ 500 milhões. A Daslu, hoje, está em fase de desmonte, com muitas consumidoras achando-se órfãs pela perda do point. E, agora, em semana carnavalesca, o sofisticado balneário catarinense Jurerê Internacional começa a ter sua vida noturna contestada pelos próprios moradores do famoso condomínio. A Associação de Proprietários e Moradores de Jurerê Internacional (Ajin) alega que a barulheira das baladas noturnas dos clubes criados à beira da praia acabaram com a qualidade de vida de quem escolheu aquela praia para morar. Os moradores acusam os novos ricos pela modificação do perfil do balneário. A mídia transformou anônimos em “celebridades” instantâneas, bastando apenas ter corpos bronzeados e tatuados, mas Jurerê Internacional, na opinião da Associação de Moradores, é apenas uma praia de ricos e não de multimilionários que lavam os pés com champanhe, circulam de carrões importados e dão R$ 2 mil de gorjeta. Cinco clubes de praia são responsabilizados pela Ajin numa ação na Justiça por ocupação de área pública, poluição sonora e ambiental e licenciamento concedido pelas autoridades sob suspeição.
A DEFESA
Carlos André Motta, diretor do Grupo Habitasul, contesta a tesa da Ajin sobre a queda da qualidade de vida de Jurerê Internacional. Para ele a definição de qualidade de vida é um conceito particular. O que para umas pessoas ficar em casa jogando cartas ou xadrez é qualidade de vida, para outras o bom mesmo é uma balada. Numa entrevista a um jornal catarinense, Motta garantiu que a “excelência na qualidade de vida não se perdeu e nem vai se perder”.
A CRÍTICA
O MPE catarinense abriu inquérito para verificar as alegações da Ajin e o MPF acompanha até mesmo o tratamento de esgoto do balneário (sempre foi um modelo para todos os empreendimentos imobiliários à beira do mar) que pode estar no seu limite de atendimento. Os críticos do que se passa hoje em Jurerê Internacional lutam para que o condomínio volte ao que era antes: um lugar tranqüilo, sem motores potentes roncando pelas aprazíveis ruas identificadas com nomes de habitantes marinhos e com noites sem poluição sonora provocada pelo som de uma música de sonoridade duvidosa.
NO PASSADO
O colunista conheceu Jurerê em 1974. A praia era local de camping dos moradores de Florianópolis que deixavam suas barracas montadas durante a semana, desfrutando da vida calma da praia nos fins de semana. Jurerê Internacional foi tocado e desenvolvido pelo empresário Péricles Druck, considerado um visionário por aqueles que conheceram o projeto imobiliário. A partir dos anos 80, Jurerê Internacional desenvolveu-se com moradores considerados classe A. A badalação e a mídia só chegaram lá muito tempo depois, no início do novo século.
O QUE MUDOU
Jurerê Internacional já teve momentos de total solidão, quando o veraneio terminava em fins de fevereiro, nos seus primórdios. As ruas só sentiam a presença de uma eficiente segurança particular e de algum curioso que queria conhecer aquela miragem na parte norte da Ilha de Florianópolis. Hoje, cinco mil proprietários vivem todo ano no local, alguns são executivos de São Paulo, Paraná e RS que deixam suas famílias por lá e fazem uma ponte aérea para Jurerê nos finais de semana. Eles também não se sentem à vontade com tanto agito criado pelas “celebridades” de verão.
Rogério Mendelski/Correio do Povo
quarta-feira, 9 de março de 2011
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4 comentários:
CONHEÇO MUITOS, MAS MUITOS MORADORES MESMO, DE JURERE, QUE NÃO SE SENTEM CONFORTÁVEIS COM ESTA SUPER EXPOSIÇÃO.
E A QUEIXA É ESSA MESMA: PERDERAM A TRANQUILIDADE!
Lu
Na matéria já diz, a badalação só chegou muito tempo depois e a Ajin já existia, deixam fazer e depois reclamam, todos iguais...
JURERE É OUTRO MUNDO......
Silvia Peres
Meu comentário não é sobre a notícia, mas sim como ela foi escrita! Adorei esse texto, principalmente a primeira parte! Combina seriedade com comédia... Adoro textos assim, da vontade de não parar de ler!
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